"A ALMA DO MEU POVO"


Boa noite, minha querida cidade. Boa noite, meus amigos, parentes, outros povos que elegeram este pobre e humilde torrão como sua terra-mãe e souberam se integrar nessa comunidade como se fora seu próprio filho.
Boa noite minha cidade. E...muito obrigado.
Do etéreo vi resplandecer uma forte luz, oriunda do meu cantinho que tanto amei. Apesar de não me ser permitido, no plano onde estou, sentir determinadas emoções, tipicamente terrenas,  quebrei as regras e senti-me orgulhoso ao ver os meus descendentes e afins relembrando a minha, a sua, a nossa história. Confesso, até me emocionei na madrugada da última quarta-feira, quando vi minha cidade ser acordada, em alvorada, por cânticos pacíficos, alegres e esperançosos.
Muito obrigado. Obrigado por lembrarem de mim, obrigado por continuarem sonhando o meu sonho. Obrigado, meu povo.
Não pensem, porém, que só agora estou a olhar para vocês! Não! Sempre, sempre, estive vigilante e atento à forma carinhosa com que têm tentando conduzir a nossa comunidade; sempre lembrando dos pioneiros; dos menos lembrados e de todos aqueles que fizeram, fazem e farão a nossa história.
Gostaria de falar-lhes coisas bonitas: encantadoras, no entanto só lembro das coisas do meu tempo: singelas, comuns, rudes, porém, objetivas e nobres.
Estou realmente muito feliz. Não só eu, mas um sem-número de companheiros, contemporâneos meus que também aqui estão, que ajudaram na minha tarefa de criar essa comunidade e que também, assim como eu, brincam, cantam, dançam; em suma, são felizes, à nossa maneira celestial, quando veem a semente que plantamos a produzir frutos..
Minha intenção não é a de tomar o vosso tempo, pois sei, que, principalmente hoje, é bastante precioso, mas apenas gostaria de registrar que o que fazeis não está sendo em vão. Tudo está sendo devidamente registrado por quem de direito. Portanto, obrigado por continuarem com essa nobre  missão, principalmente, quando vejo que a intenção é uma e, unicamente uma: a de integrar, construir, crescer e multiplicar.
Obrigado mais uma vez e meus parabéns. Quero simplesmente que tenham a certeza de que os vossos descendentes também os agradecerão por tão bela atitude, tão valorizada em nossa dimensão, qual seja a de cultivar as coisas vivas, as coisas instruídas pelo poder maior – o Criador.
Boa noite, minha querida Livramento. Boa noite, meus amigos e meus parentes. Boa noite, outros povos que também já os considero inseridos na “ALMA DO MEU POVO”.
Finalmente, um último recado: se porventura, andando tu, em caminhada matinal, em qualquer rua, beco, praça ou viela da nossa cidade, encontrares uma imensa gota de orvalho na árida mas fecunda terra da nossa querida Livramento, planta ali uma árvore que distante sorrirei. E, por favor, batiza-a pelo nome de SAUDADE.




(Crônica em homenagem ao fundador da cidade de Livramento-PB, por ocasião da Semana do Folclore – Ano VII - 1998)