SAUDADES DO MEU ANTIGO SERTÃO
Quando retornei ao meu sertão
Como ocorre com todo nordestino Quis reviver o meu tempo de menino, Mas grande foi a minha decepção. Não há mais fogueira de São João, Nem a música raiz tão brasileira O que há é uma enorme barulheira Que alguém apelidou de forró. Que tristeza eu senti e tive dó Da nossa tradição tão altaneira. É triste ver a atual realidade De um povo tão forte e tão valente Que se deixou levar ingenuamente Por essa dita modernidade. Eu sofri e chorei com saudade, Revendo a velha casa dos meus pais De tudo aquilo que não existe mais: O canto de um galo de campina Uma rezadeira chamada Severina Nem acauã a cantar nos juremais. Não há mais sanfona gemendo ao luar, Nem tampouco o lume de um candeeiro, Nem o aboio perdido de um vaqueiro Nem violeiro cantando um beira-mar. Fiquei decepcionado ao constatar Que na minha tão poética região Não se escuta sequer mais um baião nem reza bem rezada duma novena. O que se ouve dizer à boca pequena É que globalizaram também o sertão. O velho jegue foi abandonado Foi trocado por uma motocicleta. Houve uma revolução completa Acabaram com o nosso passado. O meu sertão está todo mudado Perdeu-se toda aquela essência, Só se vê uma terrível violência. De forma generalizada e fria. Devolvam-se por favor minha poesia: implora a terra pedindo por clemência.
ancelmo portela (poetaportela)
Enviado por ancelmo portela (poetaportela) em 24/04/2013
Alterado em 12/09/2013 |