BOTECO DE FEIRA
É um bêbado fazendo zoada
e outro bêbado cantando. É uma vitrola tocando uma música feia danada. É uma rapariga safada daquelas bem estradeiras que usando a bebedeira depena um pobre coitado, Velho feio e desdentado que veio só fazer a feira. É uma mesa enferrujada rodeada por quatro cadeiras, cada uma com mais poeira e uma com a perna quebrada. É a foto de uma mulher pelada sorrindo pra freguesia. Credo em cruz, ave Maria! Ai! que tanta confusão. É polícia atrás de ladrão que roubou a sacristia. É um cego chamado João com um menino remelento. É um cachorro velho sarnento se esfregando no balcão, fedendo que nem o cão, soltando uma pulga danada. É uma velha desdentada com um cachimbo na boca, brigando com uma louca que lhe pediu uma bicada. É freguês cuspindo no chão, é uma esmoler rogando praga. Uma quenga que se embriaga e fala só palavrão. É fumaça que vem do fogão, é uma barata na parede. É um peão matando a sede num pote que é só grude, cheio de água do açude, coberto com um pano de rede. Isso é boteco de feira. Ali é o lugar ideal do bêbado profissional que bebeu a vida inteira. E não me venha com besteira que não há primeiro sem segundo. Tudo ali é sujo e imundo, mas não há como negar: para os bêbados aquilo lá é o melhor lugar do mundo! PS. Caso você queira escutar este poema na voz do autor, clique no título, Logo abaixo da palavra ÁUDIO
ancelmo portela (poetaportela)
Enviado por ancelmo portela (poetaportela) em 11/05/2012
Alterado em 11/05/2012 Áudios Relacionados:
BOTECO DE FEIRA - ancelmo portela (poetaportela)
|