Ancelmo Portela (poetaportela)

                                                              o sonho me faz poeta; o amor me sacia.

Textos

BOTECO DE FEIRA
É um bêbado fazendo zoada
e outro bêbado cantando.
É uma vitrola tocando
uma música feia danada.
É uma rapariga safada
daquelas bem estradeiras
que usando a bebedeira
depena um pobre coitado,
Velho feio e desdentado
que veio só fazer a feira.

É uma mesa enferrujada
rodeada por quatro cadeiras,
cada uma com mais poeira
e uma com a perna quebrada.
É a foto de uma mulher pelada
sorrindo pra freguesia.
Credo em cruz, ave Maria!
Ai! que tanta confusão.
É polícia atrás de ladrão
que roubou a sacristia.

É um cego chamado João
com um menino remelento.
É um cachorro velho sarnento
se esfregando no balcão,
fedendo que nem o cão,
soltando uma pulga danada.
É uma velha desdentada
com um cachimbo na boca,
brigando com uma louca
que lhe pediu uma bicada.

É freguês cuspindo no chão,
é uma esmoler rogando praga.
Uma quenga que se embriaga
e fala só palavrão.
É fumaça que vem do fogão,
é uma barata na parede.
É um peão matando a sede
num pote que é só grude,
cheio de água do açude,
coberto com um pano de rede.

Isso é boteco de feira.
Ali é o lugar ideal
do bêbado profissional
que bebeu a vida inteira.
E não me venha com besteira
que não há primeiro sem segundo.
Tudo ali é sujo e imundo,
mas não há como negar:
para os bêbados aquilo  lá
é o melhor lugar do mundo!


PS.  Caso você queira escutar este poema na voz do autor, clique no título, Logo abaixo da palavra ÁUDIO
ancelmo portela (poetaportela)
Enviado por ancelmo portela (poetaportela) em 11/05/2012
Alterado em 11/05/2012
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